Flora Gomes e o Cinema de Libertação Africano: Conversa com Miguel de Barros e Apresentação do Livro "O Cineasta Visionário"

A conferência internacional “O Nascimento (em Imagens) das Nações Africanas: Média e Descolonizações”, realizada em Lisboa no dia 9 de outubro, contou com a participação do cineasta guineense Flora Gomes numa conversa com o sociólogo Miguel de Barros. O evento, promovido em colaboração com o ICNOVA-FCSH, a Escola das Artes (UAL), o Hangar e com o apoio da Cinemateca Portuguesa, destacou o percurso de Flora Gomes, o mais conhecido dos realizadores guineenses, e os desafios enfrentados na produção do seu novo documentário em parceria com Sana Na H’ada e Suleimane Biai sobre Amílcar Cabral, figura central na sua obra cinematográfica.

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Durante a conversa, Flora Gomes refletiu sobre o seu percurso no cinema, iniciado após a independência da Guiné-Bissau, e sobre as dificuldades que sempre enfrentou ao tentar contar as histórias do seu país, ainda desprovido de salas comerciais de projeção. Com especial enfoque no mais recente projeto, um documentário sobre Amílcar Cabral, que está em produção há mais de 10 anos, sem qualquer financiamento oficial, Flora Gomes sublinhou o grande desafio de documentar a vida e o legado de Cabral, uma figura que transcende a Guiné-Bissau e representa a luta pela libertação em toda a África.

Formado em cinema em Cuba e no Senegal, Flora Gomes revelou que a presença de Amílcar Cabral percorre toda a sua obra cinematográfica, desde a sua primeira longa-metragem, Mortu Nega (1987), que aborda a luta pela independência da Guiné-Bissau, até os seus filmes mais recentes. Títulos como Udjus azul di Yonta (1992), Po di Sangui (1996), Nha Fala (2002) e República di Mininus (2013) são exemplos do seu compromisso com temas de resistência, resiliência e o sonho de um futuro melhor, características centrais das suas narrativas. Em 2000, Flora Gomes foi agraciado em França com o título de Chevalier des Arts et des Lettres e já foi premiado em prestigiados festivais internacionais, como os de Veneza, Cannes e FESPACO.

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Miguel de Barros elogiou a capacidade de Flora Gomes de utilizar o cinema como uma ferramenta de transformação social e preservação da memória coletiva da Guiné-Bissau, destacando o impacto da sua obra na construção de uma identidade contra-colonial. O sociólogo realçou ainda o papel essencial de Cabral, um ícone que atravessa gerações e está profundamente enraizado na cinematografia de Gomes.

A conversa do dia 9 antecedeu a sessão de cinema realizada a 10 de outubro na Cinemateca Portuguesa, onde foram exibidos três filmes históricos: Maputo (1977), Reconstrução, Educação (1977), co-realizado por Flora Gomes, e Nô Pintcha (1979). O crítico Luca Peretti introduziu as exibições, contextualizando-as no cinema de descolonização e destacando a importância de Flora Gomes como uma voz fundamental no cinema africano.

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Após a sessão de cinema, realizou-se a apresentação do livro O Cineasta Visionário, na Livraria Linha de Sombra (Cinemateca), por Miguel de Barros, organizador do livro. A obra celebra a vida e a carreira de Flora Gomes, reafirmando o seu papel central na preservação da memória histórica e no cinema de libertação africano.

 

CCGB

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