Entre os dias 9 e 12 de setembro de 2025, a cidade do Mindelo, em São Vicente (Cabo Verde), acolheu o 23º Congresso da Associação de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola – ACBLPE. O encontro, realizado em parceria com a Universidade de Cabo Verde, reuniu cerca de 40 investigadores e professores de diversas universidades do mundo, num espaço de partilha e reflexão sobre as línguas crioulas formadas a partir do contacto do português ou do espanhol com outras línguas.
Estiveram presentes investigadores de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, Brasil, Espanha, França, Japão, entre outros países, que apresentaram trabalhos sobre temas relacionados com a gramática de línguas crioulas, contatos linguísticos, políticas linguísticas e variedades da língua portuguesa. Um dos assuntos mais discutidos no Congresso é a oficialização e padronização das línguas crioulas e o seu uso na educação e na administração nos países onde existem. Dos países africanos onde há crioulos de base lexical portuguesa, Cabo Verde é onde esse debate está muito mais saliente.
A Guiné-Bissau esteve representada pelos linguistas e professores Zaida Pereira e Ronaldo Mendes, que participaram ativamente nos debates científicos.
A professora Zaida Pereira apresentou a conferência plenária intitulada “A dinâmica linguística na Guiné-Bissau: alguns apontamentos sobre a situação atual”. Na sua intervenção, destacou o papel da migração interna, da mobilidade populacional e, mais recentemente, dos média na “diluição das fronteiras entre territórios linguísticos outrora mais demarcados”. Segundo a investigadora, esses fatores permitem também observar “as atuais tendências na reconfiguração linguística” no país.
Já o professor Ronaldo Mendes, em comunicação conjunta com os investigadores Fábio Granja, Carlos Silva e Luís Trigo, apresentou um estudo sobre a variação fonológica do crioulo da Guiné-Bissau a partir de falantes nativos de mandinga, fula, manjaku e balanta. Os resultados mostraram que, embora as variedades de crioulo utilizadas por falantes destas línguas sejam bastante próximas entre si, a do crioulo mandinga apresenta maior proximidade com o português.
O congresso foi antecedido por um minicurso universitário sobre línguas crioulas, destinado a estudantes de mestrado da Universidade de Cabo Verde e a professores do ensino secundário.
O próximo encontro da ACBLPE será realizado na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, em data a anunciar.
A Equipa da CCGB